quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011


A Visita da Dama (de Alma Welt)

Não morrerei de amor como pensava
Que seria o meu fim quando guria,
Mas certamente baterei naquela aldrava
Mais cedo, que é o que a castelã queria

E disse quando ao meu encontro veio
Quando eu ia a vagar colhendo flores...
E recordo que não tinha um porte feio
Mas sim de dama digna de amores

Que por aqui passava como aragem,
Honrada me deixando, e receosa
De incomodar tão ilustre personagem.

Embora não marcando hora nem dia,
Agradeci-lhe a visita tão honrosa
Que deixou claro o quanto me queria...

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Por um triz (de Alma Welt)

Contar o meu segredo para o mundo
Seria uma irrisória pretensão,
Mas tudo o que está no mais profundo
Revelar-se é a sua grande vocação...

Quem sou, existirei, tenho uma vida?
Há quem diga que sou só a criação
De uma notável criatura dividida,
De um escritor de gênio a obsessão.

Mas mesmo por um triz a revelar-me,
Só admito que sou anima bem viva
E dizer isso não é somente charme,

Mas a real natureza e condição
De minha existência recidiva
Em outras além desta encarnação...

04/02/2011

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Amores mortos (de Alma Welt)

De noite perambulo o casarão
Na calada dos murmúrios e segredos
Enquanto os amores mortos vão
Tentando refazer os meus enredos...

E bem depois das doze badaladas
Neste decrépito relógio do salão
Começam as intrigas renovadas,
As lágrimas, suspiros, rebelião...

Todos eles, na verdade, foram meus...
Reconheço esses hóspedes inquietos
Que tomam por descaso o meu adeus,

E gritam, cerram punhos e ameaçam:
“Tu nos fazia crer-nos prediletos!
Tua ternura e beleza nos desgraçam!”

(sem data)