segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O Congresso dos Elfos (de Alma Welt)

Esta noite irei de novo ao bosque
Pois senti o chamado dos meus elfos
Com as luzes que emanam do quiosque
Como outrora a pira lá em Delfos.

Devo juntar-me ao minúsculo congresso
De duendes e demais entes bisonhos
Pois há muito espero o seu regresso,
Ó tempo da alma e dos sonhos!

Mas a pequena rainha que preside
A reunião desses bons elementais
Não exclui o mal que ali incide,

Que por esses meu leito não deixava:
Pérfidos trolls e worlocks brutais,
Na erma noite que a neblina agrava.

(sem data)


Nota
Este soneto, como outros da Alma que se referem ao seu bosque(que temos aqui na estância) que nos era proibido em nossa infância por nossa Mutti, me fez recordar o belo e sinistro poema de Henry Treece musicado e cantado pela grande cantora folk Joan Baez nos anos 60. Reencontrei-o no You Tube. Vale a pena recordá-lo e comparar seu sentido com os sonetos da Alma sobre o tema:
http://www.youtube.com/watch?v=YI8O4uSVzO8

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Pôquer de Máscaras (de Alma Welt)


Alma-Desdêmona (desenho de Guilherme de Faria)


Pôquer de máscaras (de Alma Welt)

Em torno da mesa, mascarados
Camuflam os olhares e a esperteza,
Os meneios sutis, inusitados
Deste antigo pôquer de Veneza.

É pleno Carnaval, e os jogadores
Reunidos num salão abobadado,
Palácio de outra era, de outras dores,
Num tempo que parece retornado

Desdêmona passou de tranças feitas,
Feliz, antes da Noite das suspeitas,
E Giacomo, depois, como aprendiz

De aventureiro e sedutor empedernido
Sob a máscara de fálico nariz
Que tanto coração deixou perdido.

25/02/2005


Nota
Alma assistiu uma vez, em Veneza, em pleno Carnaval, num palácio sobre o Grande Canal, um tradicional jogo de pôquer mascarado, de que Rodo participou. Alma em longo vestido de época, armado, com magnífica máscara branca e um grande leque de plumas, deslisava por ali, à volta da mesa. Ela jamais se esqueceria dessa experiência que fez seu espírito vagar por outras eras, naquela misteriosa e romântica cidade. Pouco depois, retornada ao Brasil ela me declamou esse soneto. Agora, como estamos no Carnaval me lembrei dele e fui procurá-lo na montanha de papéis de sua arca. Encontrei-o afinal, oportuno, pois Rodo se encontra em Veneza e me enviou um postal dizendo que está participando novamente desse tradicional e exclusivo pôquer de máscaras, em que se senta ao lado de banqueiros, magnatas, e eventualmente, até... chefões da Máfia (não posso deixar que a preocupação me tome...) (Lucia Welt)

*Desdêmona passou de tranças feitas- Alma sugere com este verso que a mulher de Otelo, vagou por esse salão quando donzela, solteira (de tranças) feliz , antes de começar o tempo das terríveis suspeitas, dos cíúmes, de seu futuro marido, o Mouro de Veneza.

*Giacomo, depois, como aprendiz- Alma se refere ao famoso sedutor veneziano, Giacomo Casanova, do século XVIII, de época bem posterior à de Desdêmona (século XV), e que começou sua carreira de aventureiro ainda jovem na sua Veneza natal, nas mesas de pôquer, onde conseguia se aproximar dos nobres e da "elite" financeira, que logo o encarcerou, pois ele roubava no jogo com a ajuda das mulheres desses nobres, as quais ele seduzia. Casanova foi condenado à morte, mas conseguiu fugir da prisão sobre o canal (vide a "Ponte dos Suspiros") e ficou exilado de Veneza para o resto da vida, vagando pelo salões da Europa.
Postado por Lúcia Welt às 07:59 0 comentários

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Leda e o Cisne (de Alma Welt )


Leda e o Cisne- mármore veneziano

Leda e o Cisne (de Alma Welt)

Decidi experimentar volúpia nova
E encarnar princesas mitológicas
Acolhendo as entidades pouco lógicas
Que Zeus transfigurado punha à prova

Na doce e embevecida prontidão
Em tê-lo entre as coxas bem no meio
Ou como chuva de ouro no meu seio
Mesmo que ensopasse meu colchão.

Assim comecei pelo meu cisne
Que ganhara de meu pai, enternecida
Por sua beleza branca enaltecida

Em que senti das plumas como seda
Emergir rubro arpão sem que me tisne
As pétalas e encantos, como Leda...


(sem data)

A nuvem de Io

Zeus e Ío (1530), por Correggio (ativo a partir de 1514- falecido em 1534)

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Depois do cisne, resolvi, uma por uma,
Desafiar Metamorfoses mais sutis
Pois há sempre a rota em que se ruma
E Zeus não lança mão de formas vis.

Como Danaé no estranho banho
Dourado que a veio iluminar
Assim eu mesma tive um ganho
Ao pedir ao meu amor pra me dourar.

Faltava agora por nuvem ser tomada,
E como nunca apreciei o “fumacê”
Não conseguia matar esta charada.

Então junto à cascata do meu rio
Envolta nua no vapor que ali se vê,
Fui possuída como a sonhadora Ío.

(sem data, circa 1999)

Nota

Percebe-se que o Mito da chuva de ouro de Danaé Alma resolveu com a simples urofilia, coisa que na verdade ela já conhecia bem com nosso irmão Rodo desde a infância. Note-se que urofilia ou urolagnia é uma prática sexual mais comum do que se pensa e conhecida popularmente como "banho dourado". Quanto à transformação de Zeus em nuvem para possuir a princesa Ío, Alma resolveu lindamente ao entregar-se ao seu amor em meio à neblina que se forma na nossa cascata, mais fortemente numa certa época do ano.(Lucia Welt)