sábado, 21 de fevereiro de 2009

Pôquer de Máscaras (de Alma Welt)


Alma-Desdêmona (desenho de Guilherme de Faria)


Pôquer de máscaras (de Alma Welt)

Em torno da mesa, mascarados
Camuflam os olhares e a esperteza,
Os meneios sutis, inusitados
Deste antigo pôquer de Veneza.

É pleno Carnaval, e os jogadores
Reunidos num salão abobadado,
Palácio de outra era, de outras dores,
Num tempo que parece retornado

Desdêmona passou de tranças feitas,
Feliz, antes da Noite das suspeitas,
E Giacomo, depois, como aprendiz

De aventureiro e sedutor empedernido
Sob a máscara de fálico nariz
Que tanto coração deixou perdido.

25/02/2005


Nota
Alma assistiu uma vez, em Veneza, em pleno Carnaval, num palácio sobre o Grande Canal, um tradicional jogo de pôquer mascarado, de que Rodo participou. Alma em longo vestido de época, armado, com magnífica máscara branca e um grande leque de plumas, deslisava por ali, à volta da mesa. Ela jamais se esqueceria dessa experiência que fez seu espírito vagar por outras eras, naquela misteriosa e romântica cidade. Pouco depois, retornada ao Brasil ela me declamou esse soneto. Agora, como estamos no Carnaval me lembrei dele e fui procurá-lo na montanha de papéis de sua arca. Encontrei-o afinal, oportuno, pois Rodo se encontra em Veneza e me enviou um postal dizendo que está participando novamente desse tradicional e exclusivo pôquer de máscaras, em que se senta ao lado de banqueiros, magnatas, e eventualmente, até... chefões da Máfia (não posso deixar que a preocupação me tome...) (Lucia Welt)

*Desdêmona passou de tranças feitas- Alma sugere com este verso que a mulher de Otelo, vagou por esse salão quando donzela, solteira (de tranças) feliz , antes de começar o tempo das terríveis suspeitas, dos cíúmes, de seu futuro marido, o Mouro de Veneza.

*Giacomo, depois, como aprendiz- Alma se refere ao famoso sedutor veneziano, Giacomo Casanova, do século XVIII, de época bem posterior à de Desdêmona (século XV), e que começou sua carreira de aventureiro ainda jovem na sua Veneza natal, nas mesas de pôquer, onde conseguia se aproximar dos nobres e da "elite" financeira, que logo o encarcerou, pois ele roubava no jogo com a ajuda das mulheres desses nobres, as quais ele seduzia. Casanova foi condenado à morte, mas conseguiu fugir da prisão sobre o canal (vide a "Ponte dos Suspiros") e ficou exilado de Veneza para o resto da vida, vagando pelo salões da Europa.
Postado por Lúcia Welt às 07:59 0 comentários

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