domingo, 29 de junho de 2008

O Quo Vadis da Alma ( de Alma Welt)


Escultura em bronze de artista anônimo (não identificado, e infelizmente de segunda categoria) que ilustra a cena do martírio de Lígia no Coliseu, do romance Quo Vadis, de Henrik Sienkiewsky, que inspirou este soneto inusitado da Alma.(coleção Flávio Pacheco, São Paulo, SP, Brasil)


Procuro encontrar o meu segredo
Aqui mesmo no meio deste Pampa,
Mas no triângulo formado pela guampa
Do jardim, o pomar e o vinhedo.

O casarão é o fulcro ou mesmo a testa
Do touro em que se atam meus delírios
No dorso, como Lygia em plena festa
De sangue, no auge dos martírios

Num Coliseu desfalecida e muito alva,
Por meu Rodo barrado como o Urso,
O fiel gigante ruivo que a salva

Desse grande auroque da Germânia:
Meu fado belo e atroz como o recurso
Da Poesia que meu dorso afaga e lanha...


(sem data)

___________________

Nota da editora:

Este curioso soneto de exacerbado cunho simbolista, encontrado recentemente, solto, entre os papéis da Alma, revelam a ambigüidade de sentido que ela atribuía ao seu dom da Poesia, afago e martírio ao mesmo tempo, a ponto de se sentir como a heroína germânica e cristã, Lygia, mártir por um triz, amarrada nua nas costas de um grande touro (seu destino), imagem célebre saída do grande romance Quo Vadis (Quo Vadis, Domine? "Aonde vais, Senhor?") do polonês Henryk Sienkiewics, que Alma leu quando adolescente. (Lucia Welt)

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Lembrança da avó Frida (de Alma Welt)

Às vezes me lembro da avó Frida
Com suas casquinadas feiticeiras
Da boca rasgada qual ferida
E face sulcada como leiras,

Longos cabelos brancos desgrenhados
Nunca presos com o coque das avós,
Mas soltos, secos, mal lavados
Sobre espáduas curvadas e com nós.

Mas, bah! suas estórias pitorescas
Plenas de uma veia impagável,
Nas suas narrativas picarescas

Daquele portento de Sodoma,
O ancestral Gottfried condestável,
Bem cedo retiraram-me a redoma...


14/11/2006