segunda-feira, 4 de maio de 2009

O bosque da donzela nua (de Alma Welt)

Na floresta que é meu bosque para mim
Desde guria eu vou pelas amoras
E pelas matinais aves canoras
E as de quando o dia chega ao fim.

Mas é de noite que sou a sua Infanta
E só eu tenho a coragem de adentrá-lo,
Que ao povo, há de sempre apavorá-lo
Aquela fadaria que me encanta.

Mas ali me viram com as lanternas
Como donzela nua e exangue
A escorrer meu mênstruo pelas pernas.

Pois é essa a ousadia que perpetro,
E gerou a lenda de um espectro
Que mancha os cogumelos de seu sangue.

05/12/2003

domingo, 3 de maio de 2009

De eras, heras e medos (de Alma Welt)

"...Où sont les neiges d'antan?"
(Balada das Damas dos Tempos Idos -(François Villon)


As vetustas paredes desta casa
Guardam sonhos da farroupilha era,
Também medo tardio que extravasa
E se alastra agora como a hera

A recobrir daninha esta fachada
Tornando-a mais sombria que vital
E nada hospitaleira à convidada
Que eu trouxe da longínqua capital

E que de noite acorda e se me agarra
A debater-se qual barca em sua amarra
Na torrente dos soluços e das mágoas

Das prendas que qual "neves d’antanho"
Ora permitem degelar as suas águas
Pois que então o heroísmo era tamanho...

2004


Nota

Acabei de encontrar este soneto inédito que percebi corresponder aos primeiros tempos da estada de Aline na estância, quando ela ainda se aterrorizava com os ruídos e murmúrios noturnos do casarão. A propósito (ou não) a namorada paulistana da Alma teve um filho de nosso irmão Rodo e acabou voltando com a criança (Marco) para São Paulo, contra a nossa vontade (que a amávamos), depois de dois anos (vide o romance O Sangue da Terra, de Alma Welt, no blog com este nome). (Lucia Welt)