sábado, 28 de março de 2009

O vinho e o Graal (de Alma Welt)

Percorrendo em vigia meu vinhedo
Tive linda visão e inusitada:
Um cacho isolado qual segredo
Pois que sua cor era dourada.

"Um cacho de ouro!"- exclamei.
"Galdério! Vem ver o que encontrei!
Vê se é uma praga, anomalia
Que possa destruir toda a valia

Da safra e também do nosso esforço!
O cacho é pirata ou belo corso?
Deixo contigo juízo e decisão."

“Alma”- respondeu sábio o peão-
“Então não vês que o ouro é o sinal
De que temos o vinho e o Graal?”

(sem data)

Nota
Acabo de encontrar este curioso e encantador soneto, de acentuado pendor simbolista. E me lembrei de que na época, eu morando em Alegrete, ouvi comentários sobre o espantoso cacho dourado no meio do vinhedo, que se tornou uma das lendas da Alma e de nossa estância. (Lucia Welt)

segunda-feira, 16 de março de 2009

Onde vivem os deuses (de Alma Welt)

E eu cantaria o amor que me coubera
Ao nascer de novo nestes pagos
Isolados do mundo, noutra era,
Onde vivem os deuses e os magos.

Aqui me apaixonei por meu irmão,
Que como Eros piá vivia alado,
Sem dar-nos conta da cruel proibição,
Pois somente guiados pelo Fado.

Eis que num certo dia, aziago,
Fomos flagrados ao pé da minha Ara
Num lance que faria grande estrago

Não fora em nós a reverência e a fé
Nos nossos velhos deuses, coisa rara,
Que nos salvou o amor e... a alma até.

(sem data)

quarta-feira, 4 de março de 2009

Aqui estarei (de Alma Welt)

Aqui estarei, meu Rôdo, quando tudo
Naufragar em nós com o navio
Que é este casarão já quedo e mudo
A crepitar como uma vela sem pavio,

E nós, como sombras sorrateiras
Esgueirarmo-nos por estes corredores
Ou por este salão e suas soleiras
Que olharão para os últimos albores

Já a nos ver espectrais em cavalgadas
Ou mesmo a pé a vagar nas pradarias
Nas novas noites, eternas e tão frias...

Ai! Não mais claras manhãs, e orvalhadas,
Onde rindo perdoavas meus deslizes
E eu aos teus, por sermos tão felizes!

14/01/2007