quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Noites retornadas (de Alma Welt)

Noites retornadas na memória!
Belas noites quentes de verão
Quando eu contava nossa estória
Para meus guris amados, no portão

Frente à relva coruscante deste prado
Na orla do jardim da velha Frida
Do ilustre casarão meio arruinado
Pela saga intensa de outra vida

E revíamos os amores e as lutas
Que eu mesma narrava sem receios
Sem me saber herdeira das disputas

Que depois fizeram ver a dura lança
À nova estirpe por outros rubros meios:
Derramando nosso vinho e nossa herança...

(sem data)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O cavaleiro (de Alma Welt)

Pelas noites vinha o cavaleiro
Armado de fuzil e cartucheira,
No peito, cruzada, a bandoleira
E na cintura uma faixa de toureiro

Com o punhal de prata e bombachas,
O chapéu era pequeno e dobrado,
Tinha fileiras de bordadas tachas
Na frente, e aos ventos do meu prado.

Mas ele cavalgava sem um senso
E mirando-me assim ele apontava
Mas passando por mim arremetia

No louco rumo do nevoeiro denso
Onde por encanto ele sumia
Enquanto o véu do tempo se fechava...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Iniciação (de Alma Welt)

À meia noite o portal se abria
E tudo se passava no meu bosque.
Eu saía do meu quarto e lá eu ia
Para o mágico encontro no quiosque

Das fadas e demais elementais
Que temias, eu me lembro, e evitavas
Como conspirações de ardis fatais
Que nos mandariam e tudo às favas:

A ordem, os desígnios e o destino
Que a gente há muito construía
No plano destes prados, dia a dia.

Mas tu mesmo, Rodo, foi primeiro
A me mostrar no espelho o aço fino
Entre o bosque e o mundo verdadeiro.

(sem data)

sábado, 5 de setembro de 2009

O Bosque da Poesia (de Alma Welt)

O meu bosque é território de magia
Desde que bem criança o adentrei
Sozinha, pois que medo não havia
Apesar do silêncio que encontrei

De súbito rompido pelo canto
Que, romântica, chamei de “rouxinol”
Pois que era o momento do encanto
Com os últimos reflexos do sol.

Mas logo sombras se adensaram,
Se fizeram ver e ameaçaram
Com a face escura deste mundo

Até que entre as fadas e a guria
Selou-se então o pacto profundo
Que é a fonte ou raiz desta Poesia...

(sem data)

Dupla Saga, ou Sonhos do casarão (de Alma Welt)

Quando à noite o casarão dormita
E sonha a saga digna e honrosa
De uma família não tão esquisita
Como esta dos Welt, espantosa,

Eu ouço os murmúrios e até gritos
Das batalhas finais dos farroupilhas,
Quando as preces igualmente dos aflitos
Eram por outros lances e outras filhas.

Agora quem nos reza longo terço
É a Matilde, o vero esteio desta casa
Que protegeu “las niñas” desde o berço

E jurou não deixar o mal interno
Se agitar em nós como uma asa
Negra, que ela teme vem do Inferno...

(sem data)