O soneto é partitura do meu dia
E contém as notas, timbre e tom
De um andante meu na pradaria,
Dispondo se o concerto será bom.
Mas ao primeiro acorde inusitado
Regerei meu dia entre visões
E propensa a consultar o Fado,
Maestro verdadeiro... de ilusões.
Vê, o primo verso em tom saudoso
Já me arrasta em vã melancolia
Pelo longo adágio do meu dia...
Mas de minha sinfonia inacabada
O patético “finale maestoso”
Há de compor-se ao termo da jornada.
(sem data)
domingo, 22 de novembro de 2009
sábado, 21 de novembro de 2009
De feiticeiras, sopranos e contraltos (de Alma Welt)
Amar, grande mistério, é Deus em nós,
Assim como odiar é o Diabo.
E este dito perdura muito após
O tempo em que o cujo era invocado
Não só a torto e a direito nas igrejas
Mas na cozinha das velhas feiticeiras
Que com a feiúra e nariz de brotoejas
Aqueciam mais que nossas mamadeiras,
Mas asas de morcego e alguns sapos
Com o fio de cabelo de um incauto
Que ousara cuspir nos nossos trapos.
Bah! Miséria... do soprano até o contralto*,
Destino da mulher por tantos séculos,
Pernas abertas a sementes e espéculos!*...
(sem data)
Notas
*...do soprano até o contralto- Alma quer dizer: das mulheres frágeis até as mais fortes.
*...sementes e espéculos- significa a procriação e a tortura (espéculo, hoje em dia um instrumento médico ginecológico, era um instrumento de ferro para torturar mulheres nas masmorras da Inquisição. Sugestivamente, a palavra deriva do latim, speculum= espelho. (Lucia Welt)
Assim como odiar é o Diabo.
E este dito perdura muito após
O tempo em que o cujo era invocado
Não só a torto e a direito nas igrejas
Mas na cozinha das velhas feiticeiras
Que com a feiúra e nariz de brotoejas
Aqueciam mais que nossas mamadeiras,
Mas asas de morcego e alguns sapos
Com o fio de cabelo de um incauto
Que ousara cuspir nos nossos trapos.
Bah! Miséria... do soprano até o contralto*,
Destino da mulher por tantos séculos,
Pernas abertas a sementes e espéculos!*...
(sem data)
Notas
*...do soprano até o contralto- Alma quer dizer: das mulheres frágeis até as mais fortes.
*...sementes e espéculos- significa a procriação e a tortura (espéculo, hoje em dia um instrumento médico ginecológico, era um instrumento de ferro para torturar mulheres nas masmorras da Inquisição. Sugestivamente, a palavra deriva do latim, speculum= espelho. (Lucia Welt)
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Arte em mim (de Alma Welt)
Dei-me cedo a mim mesma permissões
Que a Vida não daria de bom grado
A um astro, soberano ou potentado,
Mas no mundo interno: o das visões.
Aqui fui princesa e sou rainha,
Estrela maga, infanta, feiticeira.
Aqui a bela Terra é toda minha
E a minha visão é a verdadeira
Pois não há como de mim desencantar
O mundo que criei, de tão sutil
A diferença entre o ser e o avatar.
E se o Mistério há em toda parte,
Em mim cristalizou-se como arte
Com as palavras gravadas a buril....
(sem data)
Que a Vida não daria de bom grado
A um astro, soberano ou potentado,
Mas no mundo interno: o das visões.
Aqui fui princesa e sou rainha,
Estrela maga, infanta, feiticeira.
Aqui a bela Terra é toda minha
E a minha visão é a verdadeira
Pois não há como de mim desencantar
O mundo que criei, de tão sutil
A diferença entre o ser e o avatar.
E se o Mistério há em toda parte,
Em mim cristalizou-se como arte
Com as palavras gravadas a buril....
(sem data)
sábado, 7 de novembro de 2009
O Sonho do casarão (de Alma Welt)
À meia-noite o sonho começava
Após a badalada derradeira,
Como doze golpes numa aldrava
De outra grande porta de madeira
Que não a do próprio casarão
Mas do castelo em festa, revelado,
Que há aqui mesmo no sobrado
E que emerge das sombras do porão
Lá onde as garrafas dormem cheias
E esperam, cada vez mais preciosas
Um novo tempo de vinhos e de rosas
Que só ocorrerá no mesmo sonho
Pois o Tempo suspenso tece teias
Que enredam o real reino tristonho.
(sem data)
Após a badalada derradeira,
Como doze golpes numa aldrava
De outra grande porta de madeira
Que não a do próprio casarão
Mas do castelo em festa, revelado,
Que há aqui mesmo no sobrado
E que emerge das sombras do porão
Lá onde as garrafas dormem cheias
E esperam, cada vez mais preciosas
Um novo tempo de vinhos e de rosas
Que só ocorrerá no mesmo sonho
Pois o Tempo suspenso tece teias
Que enredam o real reino tristonho.
(sem data)
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