sábado, 17 de agosto de 2013

A Hospedeira (de Alma Welt)

 
Tu que chegas ao portão de minha casa,
Já quase atravessaste o pampa inteiro
Até onde só o vento não se atrasa
E faz a curva em torno do celeiro.


Aqui é o fim do mundo conhecido,
E aportado, já não podes mais voltar
Ao teu próprio coração arrependido,
Que dos perdidos este é o novo lar...

Então após tomarmos nosso amargo
No serão frente ao fogo da lareira
Ouvirás de mim estórias, sem embargo.

Mais tarde, noite alta, ao som do vento
Como uivo de um lobo na soleira,
Verás os meus fantasmas, que acalento...

segunda-feira, 22 de julho de 2013

A Árvore Azul (de Alma Welt

A  Árvore Azul da Alma - tela de Guilherme de Faria, 2013, 100x80cm
 
 
A Árvore Azul (de Alma Welt)

Em noites quentes dela me aproximo,
Árvore azul de meu belo destino
De poeta pelas fontes do meu imo
Mais por este coração que pelo tino.

E entre os pirilampos coruscantes
Que embriagados dançam ao meu redor
Vou por certo renovar votos de antes
Quando, singela, minha fé era maior.

Qual sibila iniciada de meu culto
Não posso revelar meu ritual
Que se passa no âmbito do oculto.


Mas pela noite a dentro vou voar

No azul da copa mágica, irreal,
Onde pulsa o coração do meu pomar...

terça-feira, 25 de junho de 2013

Os Olhos da Noite (de Alma Welt)

 Olhos da Noite - pintura de Alma Welt


Os Olhos da Noite (de Alma Welt)

A barcaça da noite tem mil olhos
E navega silenciosa pela teia
Do espaço coalhado dos abrolhos
Que torna perigosa a lua cheia.

Vou com ela remando à contra-luz
Seguindo uma rota cega e louca
Que me exige uma espécie de capuz,
De mim, que nem sequer durmo de touca.

Mas as sombras escondem mais mistérios
Tal como em pleno sol a vida escura
A erguer campos de trigo e cemitérios...

Seguimos, pois, a remar contra a maré
Como vikings cobertos de armadura
Pois aqui é o fim do mundo e não dá pé...