A Dama do Lago (II) (de Alma Welt)
À vezes me sinto quase exausta
De ser este vulcão, esta torrente
De poemas, visões e vida fausta,
Derramada, liberta, transparente.
Tudo revelei, não por bravata,
E me doei generosa a este mundo
E ao Pampa, como água vem do fundo
Da fonte do meu poço da cascata
Aonde sinto deitarei como na cama
Pois aqui avistei-me como a Dama
Do Lago, que recolhe a bela espada
Que eu, como Arthur, me atirarei,
Cumprida a minha missão inusitada,
De volta ao mar de brumas como o rei...
20/12/2006
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Duplo etéreo (de Alma Welt)
Ter a minha vida acompanhada
A cada passo e a cada pensamento
Por sonetos, qual diário da jornada,
Foi, bem cedo, a saída e o alento
Para viver em dobro, alternativa
Para quem tem, como eu, contados dias,
Pois que me vendo de novo nas poesias
Reitero meu viver, e estou mais viva.
Esse diário teve um custo quando nova,
Pois fez de minha Mutti minha crítica
E tenho marcas no traseiro como prova.
Mas tendo em duas vidas duplo etéreo,
Percebo agora que atingi a feição mítica
Que faz de mim mesma o meu Mistério.
(sem data)
O Muro (de Alma Welt)
No fundo do jardim existe um muro
O qual desde guria eu suspeito
Que separa o meu presente do futuro
O lado claro e o escuro do meu peito.
Suponho que os dois pólos profundos
Separam para todos estes mundos,
Não somente em mim com o meu sisma,
Sonhos, medos, devaneios e carisma.
Mas se a Poesia nasce do absurdo
Como a invisível presença de uma ilha
No maternal e imenso seio da coxilha,
O que me dá esse ar vago e passo etéreo
É que ouço uma trilha, num tom surdo,
Na cercania desse muro de mistério...
(sem data)
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